segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A Infância Na Terra Do Sol

Fui criado no sertão nordestino, mais especificamente, no sertão alagoano, foi ali, naquele período que duas paixões se enraizaram em minha vida, e que nem o tempo se mostrou poderoso o bastante para apagar, o amor pelo povo e a cultura do meu sertão.
Meu sertão de paisagens tristes, de pessoas curtidas pelo sol, batendo em nossa casa com baldes para pegar alguma água de nossa cisterna, dos carros de boi que passeavam pelas ruas e que eu e meu irmão corríamos para, quando alcançá-lo, pegar uma carona até em casa. Das festas na praça, com parques de diversão antigos, da década de 40, conservados com várias “de mão” de tinta e muita graxa, das férias na fazenda do meu avô, onde escondido, ia comer na casa de Nega Lúcia, a cozinheira da família que mesmo não tendo muito para ela, dividia o delicioso feijão com farinha de macaxeira (talvez a sua mandioca) de seus filhos comigo, sua casa cheirava a algo mágico, o fogão a lenha era de uma beleza mística, as panelas de barro com o fundo preto queimado pelo fogo implacável da madeira eram simplesmente belas... Eu não tinha como não amar tudo isso! As casas “simples”, com parede e chão de barro batido, mantinham-se sempre asseadas e bem decoradas, recortes de revista, armários forrados com papel de presente, quinquilharias espalhadas em cada canto, tudo era belo para os meus olhos, e confesso que até hoje tento recriar, sem sucesso, este ambiente em minha própria casa, falta-me estilo.
As festas! A música faceira de um forró a muito esquecido, triângulo, zabumba, sanfona, as vezes um pífano, meu som preferido de menino! Até hoje, quando raramente o encontro, ele me faz sorrir aberto e minha mente me leva, de maneira saudosa, para a terra de barro seco e rachado, de sol a pino, que é meu sertão! As histórias contadas na calçada até tarde pelos mais velhos, histórias de quem “corria bicho”, fulano, filho de cicrano corre bicho em noite de lua cheia! Morria de medo desses lobisomens inventados.
As paisagens! O sol se pondo no horizonte pinta o céu de laranja lá no meu sertão! Nunca nascerá filho de homem, que não se espantará com tal beleza. O amanhecer claro, de uma luz nunca vista por quem é cercado por prédios e flerta com o asfalto. A beira do rio Ipanema, que em tempo de chuva, que é raro, abriga as mais lindas aves e as mais felizes lavadeiras. Meu sertão de todos os tons de terra!
Este meu sertão não pode ser comido pelo tempo ou modernidade avassaladora, esse povo não se esmorece com a fome e sede, ele permanece nos meus sonhos de menino...
Nasci na beira do mar, mas me batizei na terra do meu sertão!

3 comentários:

Felipe Barros disse...

Grande rapaz!!! Que mergulho bom pelas memórias hein?! Dá até pra sentir o cheirinho do sertão...
Tenho gostado das referências ao tempo e das memórias, que bom que vc ta mergulhando nesses temas, afinal são eles que me alimentam a um bom tempo.
Adorei seu Blog e principalmente o fato de poder trocar idéias a distância!!! Muito bom camarada, vamo que vamo, eu com meus videos e vc com seus escritos.

Beijo grande!!!

Clarissa B. disse...

Amoore... sertão pra mim só seus textos.... ou quando ele virar mar.... heheheh

Beijos...

Rafa disse...

O povo deveria conhecer o sertão na época da chuva... um dos lugares mais espetaculares que já conheci. A transformação do seco para a pujança da vida é algo inexplicável. Sou apaixonado pelo sertão!