quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O velho e inesquecível Tempo.


Meu sonho de criança era ser negro! Queria acordar e ver minha pele ganhar o tom dos guerreiros Massai, acreditei em papai Noel, sonhei em ser que nem o Indiana Jones, caçando tesouros e enfrentando bandidos caricatos, o máximo de maldade que conhecia naquele tempo.
Minha brincadeira favorita era “brincar de filme”, onde eu criava um cenário mítico, desenvolvia os personagens; um guerreiro, um feiticeiro maligno e uma donzela em perigo, papéis que eram distribuídos entre minha irmã e amigos, o feiticeiro sempre ficou de escanteio, eu, um ator polivalente naquela época, dava cabo de uma dupla interpretação! E quão grandiosos éramos! Nem tínhamos roteiros, tudo salpicava das nossas mentes repletas de aventuras nunca vividas, eram bons tempos, os tempos de capa-espada, do Conan alugado no pré-histórico formato VHS, do ET voando na bicicleta, dos Goonies ao som histérico da velha Cyndi Lauper, do saudoso e magnífico Sítio do Pica-Pau amarelo, já reprisado na minha época!
Mas o tempo veio (“Compositor de destinos; Tambor de todos os ritmos...”, nas belas palavras de um Caetano antigo) e foi comendo aos poucos as lembranças de menino, eu ainda me agarrei fortemente a detalhes sólidos, tentei esconder do tempo alguns detalhes, mas Ele me alcançou e com cara de repreensão os “tomou” todos, mas não sabia ele que outra entidade, tão antiga e poderosa quanto ele, já havia me marcado como dele, a Memória, então mesmo desbotando todos meus preciosos pertences, não conseguiu apagá-los completamente.
Ainda lembro minha coleção de livros da Série Vaga-Lume, livros que li, reli e depois li de novo, como se antecipasse um eminente esquecimento, dos gibis aguardados com apreensão desesperada todos os meses, dos brinquedos e jogos, das brincadeiras de detetive, ainda lembro, maldição! Lembrar e ter saudade.
As vezes sou abruptamente abduzido pelas férias na fazenda, as tentativas sempre frustradas de fazer uma tão sonhada casa na árvore, do jardim da minha avó, que por vezes, se transformava em uma floresta tropical ao meu bel prazer, lembro dos monstros risíveis da minha infância. De outros monstros não tão risíveis.
Também recordo do pior de meus velhos dias, lembro de algumas brigas por falta de dinheiro nos idos de uns bancos falidos, lembro das filas para comprar carne, das brigas no colégio, lembro da primeira nota baixa por ter escrito “DEUZ” na prova de religião, lembro do palhaço em um circo do interior, em como ele demonstrou seu truque sujo para uma platéia de crianças, comigo incluído, lembro do xixi na cama, da catapora, do acidente do meu irmão enquanto brincávamos, me senti tão culpado. Antes, lembro do nascimento de minha irmã e de como eu chorei de ciúmes, lembro do ar condicionado sendo ligado toda vez que eu fazia uma traquinagem, lembro das hediondas aulas de karatê.



Toda infância guarda um punhal afiado escondido pela plumagem colorida da lembrança, eu, por ser um ser da memória, sou constantemente ferido.



Mas me recuso esquecer!

4 comentários:

Rossana Fernandes disse...

Olha,
Acho que depois de tanta reza eu arrumo até um marido rico.
Huahuahuau
Até parece que é isso que eu busco. Ai, ai.
Mas preciso manter as aparências. Nem que seja a aparência de acabada de tanto rir ou chorar...rsss
Bjussssssssssssss

Clarissa B. disse...

Hahaha... faltou as histórias dos cavalos... e da bicicleta.... hehehe...

Eu tbm amigo... guardo muitos bons e alguns maus momentos da infância....

E ó... hoje eu posto só pra vc não ficar preocupado viu??? Mas só mais tarde....

Beijos doces...

Anônimo disse...

Infancia e punhal na mesma frase só me remete a situação dramática que eu (e mais milhares de crianças da época) passei por ter pais que acreditaram em uma lenda urbana que dizia que o boneco Fofão era satânico e que dentro dele tinha um punhal de aço!!

Foi meu primeiro trauma... ter que ver meu querido bonequinho ser esquartejado pelo meu pai!!

No mais... prefiro valorizar memorias mais doces! Deixo pra curtir os amargos irremediáveis do presente!

beijo

Ju ♥ disse...

minha infância foi recheada de fantasias e idéias q não consegui colocar nenhuma em prática, mas no meu quarto, sozinha eu era tudo o q queria ser.
bjs