
Meu primeiro post do ano começa com uma viagem:
Saí de Maceió na madrugada do dia 25 de dezembro, a ansiedade não cabia em mim e ameaçava estragar minha jornada rumo a Chapada Diamantina. Incrível como na última hora surgem os problemas, mas sem me abalar dei o drible nos contratempos e rumei, corajosamente e evidentemente bem acompanhado de bons amigos, para minhas férias, muito merecidas, diga-se de passagem!
Saí primeiro, meus amigos chegariam mais tarde a Salvador, ficaria esperando por eles para juntos tomarmos o ônibus que seguiria para Palmeiras, município baiano que abriga em suas terras a simples e bela vila do Vale do Capão. Depois de uma odisséia que incluía um ônibus que não saia naquele dia, 450km rumo a um lugar mais próximo ao nosso destino, estouro de minha mochila que ficou sem uso, carona para Palmeiras em uma vã cheia de gente, outra carona num caminhão velho, chegamos exaustos, porém felizes a uma vila cercada de montanhas quase mitológicas, a beleza me assoberbou de imediato, o impacto causou danos irreparáveis a minhas retinas, e ao beber a água do Capão, deixei ali parte de mim.
Tentar descrever o que é o Vale do Capão, quase é uma tarefa desgraçada, relembrar e evocar seu cheiro e suas cores é quase uma tortura, pois ao abrir os olhos vejo que não estou mais lá. Neste paraíso não existe conforto fútil, o conforto é o da alma, e cada paisagem é suada em trilhas difíceis e caminhadas exaustivas, você faz por merecer cada banho de cachoeira, cada flor violeta, cada montanha avistada, cada muro de pedra construído por escravos, cada caverna, cada sorriso e bom dia dado por viajantes do mundo, cada deleite experimentado você conquista! O sentido de preservação da natureza se acende, o humano se encolhe e extrai de si mesmo o melhor, pelo menos foi assim comigo, aquele lugar me trouxe bênçãos, não falei sobre isso até agora, a luz e a serração não foi descrita, apenas percebi, sonhei e me deixei levar, se você que lê for algum dia ao Capão, conquiste-o sem medo do esforço, ele te recompensará, te dará o melhor café da manhã servido no Galpão do argentino, atendido pela bela Marina! A noite friinha e o som de alegria vindo das barracas do camping do especialíssimo Seu Dai! A cachoeira das rodas com seus paredões coloridos e seu chão de quartzo rosa, se deitar ali sobre aquele chão reconforta o espírito! A vista do Morrão, imponente trono de Deuses que ganha mais majestade a cada passo dado ao seu encontro, vê-lo de perto aumenta a sensação de quão pequenos somos diante da maravilha do mundo, e isso ilumina! Verá e sentirá tudo isso, terá percalços acredito, mas esse é o verdadeiro espírito da coisa!
Quando me despedi do Capão sabia intimamente que voltaria ali, e quando voltar estarei seco de sua água!
