sábado, 3 de outubro de 2009

Da História ou O Homem Livro


Estamos em rota de colisão. E o que se choca de encontro a nós?
Histórias...
Sou um homem aberto aos encontros, já encontrei inúmeros “contos”, “ensaios” e “romances” nas esquinas da cidade. Alguns apenas esboços sutis, captados pela audição, e outros tão completos que dariam inveja ao mais hábil romancista.
Ontem fui expectador de uma novela. Duas mães com filhos no presídio conversavam despreocupadas aos olhares que as rodeavam, ingenuamente abertas, relataram a rotina de filas e de corruptos agentes carcerários. “Por causa de um celular!”. “O meu mulher, matou dois.”, “O seu sai quando?”, “Ainda tem dois anos, mas se o desembargador assinar ele sai antes. Um ano no máximo!”, “A pessoa fica doente naquele lugar. Não devia ser todo mundo misturado, devia ter lugar para ladrão, outro para assassino...”, “Qual é o advogado do seu?”, “Ah é muito bom esse aí, não fiquei com ele por que não tinha os 12 mil né?”, “Ele até chora quando defende a pessoa.”. e assim, em meio a lamúrias maternas, aprendi mais sobre a justiça, mais sobre os injustiçados e mais sobre as mães.
O escritor é um bicho oportunista.
As vezes, ao invés de mero expectador, sou fazedor de histórias, algumas tristes, como a do dia em que limpei o sangue da morte de uma pessoa, e vi o sangue escorrendo pelos meus dedos, descendo pelo ralo, e pensando em como a vida é uma merda sem fim. Outras, histórias de nascimento, como a de quando vi minha sobrinha despontar pelo vidro do berçário, seu semblante tão lindo e tão novo! Eu vivo a vida de histórias que contam morte e nascimento. Minhas histórias escrevem encontros.
Aos 14 anos tive um amigo louco de 50 e poucos anos que me apresentou aos melhores livros que eu já li, me presenteou com um amado volume de Dostoiévski, aos 17 encontrei outra irmã, aos 18 um amor. Escrevi sexo casual em ruas escuras, corpos e semblantes desconhecidos, e em quartos bem arrumados, ao som de belas músicas, recitei amor.
Nada disso é ficção. Na minha história a única coisa inventada sou eu.

6 comentários:

Clarissa B. disse...

Dessa vez eu vou ser a primeira a comentar....

Estou assim... atônita?? Perplexa??? Estupefata??? Essas palavras difíceis me confundem...

Tô boba... isso resume como estou...

Quando é que sai o livro heim???

Clarissa B. disse...

Não sei porque mas algo me diz que essa foto nova do perfil foi uma indireta pra mim....

Hehehe....

erotico disse...

E eu, assim como você, me invento todos os dias.
Um beijo contador de histórias,
L.

Rafa disse...

Niva, esse post está fantástico! Parabéns meu amigo, a muito que não lia algo tão bom.
Sobre a justiça relatada na primeira parte, é realmente uma pena que as coisas sejam dessa forma. Sou advogado e acredito piamente na justiça, entretanto sei que hoje infelizmente a justiça é uma utopia. É algo para acreditarmos que um dia poderemos alcança-la. No dia a dia do trabalho o que nos mantém de pé é a idéia que mesmo de forma insignificante contribuímos para mudar esse quadro. Mas não vou mentir que com freqüência lembro-me das palavras de Mano Brown dos Racionais; "A justiça tarda, tarda e, tarda para falhar". Entretanto não podemos esmoecer, temos que acreditar, lutar por aquilo que procuramos, por fazer um mundo melhor para os próximos que virão.
Entretanto esse não é um post sobre a justiça e sim pelas histórias. Talvez seja nisso que nos entendamos tão bem. A alguns anos atrás quando minha vida estava "desencaminhada" e minha perspectiva era viver até os 21 anos eu parei para me perguntar o que eu queria da minha vida, qual era o meu objetivo e depois de muito analisar, cheguei a conclusão que a coisa que eu mais gostava era ouvir as histórias de meus pais e meus tios contadas por minha avó. Decidi então que essa seria minha vida, ter a maior quantidade de histórias para um dia contar aos meus filhos. Viver e fazer de tudo. Criei e adotei o lema "não se arrependa do que você faz, se arrependa do que deixou de fazer", e assim venho levando.
Entretanto lhe digo, não como advertência, mas como incentivo; Não deixe de escrever meu amigo, de registrar pois, como lhe disse no outro post, o destino nos prega diversas peças com nossas memórias.
Para evitar a perda, aproveito seu dom e escreva, escreva meu amigo! Além do mais, para nós, seus fiéis leitores, é um deleite poder lê-lo. Abração

Rossana Fernandes disse...

Então vc é tarólogo?
O que eu mais queria HOJE era que alguém jogasse pra mim.
Por que?
Porque tem coisas que eu não consigo entender. Talvez o divino se inspire e me inspire a pelo menos tentar compreender.
Mas tudo é muito caótico e confuso pra mim. Tudo.
Bjs

Clarissa B. disse...

Que escândalo essa nova imagem.... hummm....
;)