quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O mundo da memória


Como será viver no mundo das lembranças? O que me conforta é que todos nós iremos saber. Envelhecer é uma das raras máximas da vida, é um privilégio de muitos, e a cada ano vivido, memórias acumulamos. É nos dado um presente, é incumbida a nós a função de guardiões da memória, viramos instantaneamente contadores de histórias antigas, portadores de poderosas fábulas que versejam sobre a vida. É dado o poder da ancestralidade! Todo homem busca sua identidade, seu paradeiro, e é nos homens velhos que nós a encontramos. São nos sulcos da carne que a história é derramada sem pudor, é na falta de dentes, no passo lento e na curvatura das costas que a presença da etapa mais misteriosa da vida é vislumbrada, a morte!
Talvez por isso que eles são temidos, observá-los é um confronto com a verdade.
"lembra-te homem que morrerás um dia", memento mori.
A vida é feita de exemplos, símbolos distribuídos em nosso cenário, encara-los nem sempre é agradável, mas é nescessário. Observar e conviver com a velhice é muito interessante, pode ser gratificante, não estou aqui pedindo para você neste dia do idoso abraçar (por mais que alguns adorariam) um velhinho ! Dia do idoso é todo dia, velhos existiriam sem esta data. Peço que o respeitem, que os veja como semideuses que são por terem vivido a vida, ora tão dura.
Nem todo velho é sábio, conheço alguns que são até risíveis, mas são cheios de coisa para contar. São metáforas ambulantes que caminham na mesma estrada que você, que irão primeiro para as “terras sem sol”, mas enquanto aqui estão, vivem em um mundo de lembranças e memórias da vida e do mundo.

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"O mundo dos velhos, de todos os velhos, é, de modo mais ou menos intenso, o mundo da memória."
Norberto Bobbio

2 comentários:

Clarissa B. disse...

Cada vez mais impressionada com a sua forma de escrever...

Se já era sua fã antes... imagine agora....

Rafa disse...

Muito bom o post, ainda mais sobre tema tão bom. Adoro os velhinhos...
A indagação que faço é a seguinte:
E os que não são bons de memória como eu (e a tendência é piorar)? Viram velhos chatos ou eternos jovens?

Fico me imaginando com setenta anos...

- Oi vovô, tudo bem com o senhor?
- Quem é vc?
-Seu nétinho vovô...
- Neto? Que neto? E eu lá tenho filhos?
- Vovô eu eu tive aqui ontem, o senhor não se lembra?
- Não! Você veio fazer o que aqui?
- Eu vim trocar a fralda do senhor e lhe dar a papinha...

Acho que no fim ficarei cada dia mais novo, afinal, são as lembranças que nos fazem velhos.